quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A CASA DOS SENTIMENTOS

Eu nem sabia que ela existia, ela convivia comigo o tempo todo, cresci com ela, onde quer que eu fosse ela estava sempre na minha frente, falava por mim, decidia por mim, a companhia dela me fazia bem e eu nem percebia a presença dela, ela era tão natural que já fazia parte de mim.
Foi ela que ensinou a me vestir, a cuidar de mim, a falar com firmeza, a andar com segurança, a me impor, estava sempre presente quando eu ia tomar decisões e, quando eu me olhava no espelho era ela quem me avaliava, a presença dela era tão forte em mim, mesmo sem eu perceber a presença dela, todos me admiravam e respeitavam por causa dela.
Era ela que guiava meus sentimentos, dependendo de como ela agia, eu podia me sentir muito bem ou muito mal. Ela era tão forte e tão poderosa, que muito raramente, mais muito raramente, eu me lembro dela ter feito eu me sentir mal.
Um dia ela foi agredida por duas pessoas, deram tanta paulada nela, mais tanta paulada, que ela foi internada em estado grave, gravíssimo. Foi para o CTI, pensei que ela ia morrer, fique arrasada!. Nunca havia notado sua presença, mais foi com a ausência dela que descobri que ela existia e esteve o tempo todo comigo
A ausência dela acabou comigo! Ninguém mais me respeitava ou admirava, eu já nem ligava mais para me arrumar, não tinha vontade de fazer mais nada. Nunca pensei que ela fosse tão importante na minha vida.
Saiu do CTI, ainda estava muito mal, mais já conseguia murmurar algumas palavras.
O médico chegou fazendo perguntas:
-Do que você se alimenta?
Ela respondeu:
-Eu não me alimento
E apontando para mim, continuou:
-Eu alimento “a minha protegida”;
o médico retrucou, apontando para mim também:
-Alimenta ela? Ela é sua protegida?
Ela respondeu:
-Sim, ela é “minha protegida”, alimento ela desde a hora que ela acorda até a hora que ela vai dormir. Todos, até você Doutor, tem alguém igual ou parecida comigo a sua frente, umas se sobressaem mais outras menos, algumas são muito fracas. Eu sempre fui muito forte para minha protegida e sempre a alimentei muito bem.
O médico murmurou:
-Não estou entendendo nada!
Ela então continuou:
-A vida inteira alimentei “minha protegida” com elogios, alegrias, segurança, confiança e tudo o que tinha de melhor nesse mundo. Se eu não me curar, “a minha protegida” vai ficar muito mal. Se eu ficar com seqüelas, nunca mais ela será a mesma!
Já impaciente o médico perguntou:
-Qual é o seu nome?
Ela respondeu:
-AUTO-ESTIMA

Algum tempo depois ela deixou o hospital, foi se recuperando. Estou tentando levantar ela, mais às pauladas deixaram algumas cicatrizes e muitas seqüelas. Ela já não é tão forte como dantes, não tem tanta segurança e passou a desconfiar de tudo e de todos e, como agravante, passou a não querer aparecer muito, porque tem cisma com as cicatrizes que ficaram.
Ainda não perdi a esperança de que um dia ela vai ficar totalmente curada. Fiquei sabendo por outras pessoas que também tiveram problemas com sua auto-estima, que basta alimenta-la com seus pratos preferidos que ela fica totalmente curada e, se entre seus pratos prediletos estiver o dinheiro, ela faz uma plástica e até as cicatrizes desaparecem.

Um dia alguém tocou a campainha, abri a porta. Assim que abri a porta, ela foi entrando e falando:
-Onde está a auto-estima? Ela melhorou?
Respondi que estava se convalescendo.
-Por que você não me chamou quando ela estava ferida?
Indagou-me a visitante.
-Eu não te conheço, como eu podia te chamar?
-Se você não me conhece, não sabe o que está perdendo. Eu posso curar a auto-estima e posso mudar sua vida.
-Há, já sei quem você é, você é a esperança!
A visitante então me respondeu:
-Não posso negar que se você tiver a visita da esperança, ela vai dar uma melhorada na auto-estima, mais não vai cura-la. Se você abrir a porta para esperança, ela vai te ajudar, mas não será a solução para seus problemas. A esperança sem mim, acaba morrendo.
Aonde eu chego, trago força, curo doentes, acabo com a depressão. Você, a auto-estima, a esperança e os outros sentimentos sem mim, acabam perecendo. Se você me tiver, não terá medo de nada, enfrentará todos os problemas com tranqüilidade.
-Nossa! Então entra, cura a minha auto-estima, me traz de volta a força e a esperança porque elas se foram já faz tempo!
-Você é Deus? Indaguei a visitante.
Ela me respondeu:
-Não, eu não sou Deus. Sou o caminho que leva a Deus.
-Quem é você?
-Eu sou a FÉ.

3 comentários:

  1. Realmente. A Fé move até montanhas. O que não fará com uma auto-estima.

    Abraços.

    Paulo
    Cardquali

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  2. Surpreendente o final.
    Tenho uma pergunta a lhe fazer: basta abrir a porta?
    ABÇos
    Margareth Duval

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  3. Muito bonito, fiquei emocionada. Sem fé não somos nada. Abraços

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