domingo, 28 de dezembro de 2008

A MORTE DO EGO

Vitória era uma mulher de 1,70 m, cabelos lisos e vastos cor de mel com luzes douradas, olhos amarelo-esverdeados, pele sempre bronzeada mesmo sem tomar sol, esguia, corpo escultural, dentes perfeitos e brancos.

Vitória era linda, não tinha defeitos, tom de voz baixo e firme, extremo bom gosto para se vestir, por onde passava deixava um perfume que todas as mulheres queriam descobrir o nome do perfume. Em que loja ela comprou aquela calça e aquela blusa que ficou tão bem nela. E o sapato, que sapato! combinava tão perfeitamente com a roupa que ela vestia.

Vitória era bem sucedida, se formou muito cedo, era muito inteligente, além da média, tipo QI altíssimo.

Começou a trabalhar numa multinacional que lhe pagava um salário astronômico, comprou um apartamento deslumbrante na beira da praia. A decoração feita por ela, era perfeita. Isso sem falar na casa de campo, linda! Indescritível. Há! o carro, que carrão!

Vitória tinha tantos amigos! Todos amigos e amigas de verdade, para o que desse e viesse.

Namorados? Eram tantos os homens que caiam aos seus pés, que ela podia escolher.

Apaixonou-se diversas vezes, mas a paixão logo passava e ela descartava. Nunca quis casar, era independente de mais para isso. Dizia que não casava porque a rotina, mais dia menos dia, acabava com o amor, com o encantamento, e acrescentava:

-O homem desde a idade da pedra é caçador, depois que abate a presa e come, sai para caçar novamente. Se a presa caçada é o seu prato preferido, fica comendo aquela carne até enjoar, mas basta enjoar para sair em busca de nova presa. Alguns homens, como são muito comodistas, caçam por puro hobby, ou seja, só saem para caçar às vezes, mas isso não os impede de ficar mirando a nova presa à distância esperando o momento certo para atacar”.

Para Vitória não existiam problemas, somente soluções.

Todas as mulheres invejavam Vitória, queriam ser como ela, sempre segura de si, quando falava todos ouviam, não se intimidava com nada, mesmo quando ia dar um conselho ou uma bronca, a voz era baixa e firme.

Nunca recebeu crítica, porque sempre fazia tudo certo, ou se não era certo, tinha um poder de convencimento tão grande, que todos concordavam com o que ela ditava.

Vitória quis ter uma filha e teve. O pai, ninguém sabia quem era, nem mesmo o próprio pai ficou sabendo que a filha era dele. Quando perguntei para Vitória o por que dela ter agido assim; me respondeu que queria educar a filha sozinha. Segundo ela, filho educado por pai e mãe dificilmente tem cabeça boa, se a mãe diz não, o pai diz sim e vice-versa, no final quando alguma coisa sai errado, o pai culpa a mãe, a mãe culpa o pai e o filho culpa os dois.

A filha de Vitória era a cópia fiel da mãe, em tudo, aparência, personalidade e, como era de se esperar, adorava a mãe e nutria um respeito imenso por ela.

Mesmo depois de velha, Vitória continuou a mesma: bonita, glamourosa.
Nunca teve decepções ou problemas, graças a sua personalidade e postura.

Às vezes eu me pergunto:

-Será que nesse mundo já existiu alguma Vitória?

Quantas vezes nos deparamos com mulheres ou homens que aos nossos olhos são verdadeiros Vitórios ou Vitórias?

Será que esses Vitórios e Vitórias quando escapam ao nosso olhar continuam tão perfeitos como os vemos?

Será que os Vitórios e Vitórias não passam de homens e mulheres que queríamos ser, mas que por diversos motivos, não conseguimos chegar nem perto da personalidade e encantamento de um Vitório ou de uma Vitória.

Será que acabamos ouvindo e absorvendo aquilo que não deveríamos ter assimilado e dado ouvidos?

-Como você teve coragem de fazer isso?

-Porque você fez isso?

-Devia ter usado mais o coração.

-Devia ter usado mais a razão.

-Da próxima vez, faça assim.

-Você é um zero a esquerda.

-Você é muito baixa.

-Você é muito alta, desajeitada.

-Você está muito magra, precisa parar de fazer regime.

-Você está muito gorda, precisa fazer regime.

-Nossa! tá cheia de celulite.

-Você é muito mole, aceita tudo.

-Você é muito dura, não sabe ceder.

-Você é muito pessimista, não confia em nada.

-Você é muito otimista, confia demais.

-Você é muito boba, comigo é diferente.

-Você tá ficando velha, tá cheia de rugas.
-Você é muito burra não tem competência para aquele trabalho
-Você é o retrato do fracasso!

Será que a vida aos poucos foi nos sufocando, reprimindo e os próprios pais, esposas, maridos, parentes e amigos com suas críticas foram, aos poucos, causando a morte do ego e matando os Vitórios e Vitórias que existiam dentro de nós?

Será que nós mesmos, por termos dado ouvidos aos outros, destruímos o Vitório ou a Vitória que nasceu conosco?


VALE CONTAR:
Ia acontecer uma corrida na floresta, estavam inscritos para corrida: sapos, coelhos, tartarugas e etc.

Chegou a hora da corrida, foi dada a partida.
À medida que os concorrentes iam passando o público gritava:

-Esse coelho está atrasado, o outro já passou por aqui há uns quinze minutos!
E, após ouvir isso, o coelho atrasado, desistiu da corrida. E o público continuava:

-Esse sapo não vai chegar nunca, pula muito baixo, o outro que passou aqui pulava tão alto que quase alcançava o céu.
E, após ouvir isso, o sapo desistiu da corrida.

E o público continuava:

-Há, há, há, há! Onde essa tartaruga pensa que vai chegar, a maioria dos animais já passou por aqui há mais de meia hora!

E lá ia a tartaruga correndo, dando o máximo de si.

Em resumo, todos que por lá passaram foram desistindo após ouvir o comentário do público. Apenas a tartaruga, apesar dos comentários maldosos e do seu passo curtinho, dando o máximo que podia de si, chegou na reta final.

O comentarista da corrida curiosíssimo foi entrevistar a tartaruga para saber como ela conseguiu ganhar a corrida.

Comentarista:

-Senhora tartaruga poderia nos responder o que fez a senhora ganhar a corrida?

Tartaruga:

-O quê?

Comentarista, mais uma vez:

-Senhora tartaruga poderia nos responder o que fez a senhora ganhar a corrida?

Tartaruga:

- O queeê?

O Comentarista após repetir a mesma pergunta diversas vezes, desistiu. Ficou sabendo que a tartaruga era surda.

Moral da história:

“Quem ouve e segue tudo o que o povo diz, nunca vai ser feliz, não chega a lugar nenhum.”

Um comentário:

  1. Oi, Rita,
    Vim retribuir sua visita e conhecer seu blog.
    Gostei das histórias. Realmente não se pode levar a sério tudo que se ouve.
    beijo
    Heloisa

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