sexta-feira, 12 de junho de 2009

EU JÁ MORRI MUITAS VEZES

PREMONIÇÃO – Capítulo II

Eu estava no meio de uma neblina tão densa que não conseguia enxergar nada. Ouvi alguém chamar pelo meu nome, o som da voz produzia um eco e, embora eu me esforçar-se para identificar a voz ou ver quem estava me chamando, olhava, procurava, mas não conseguia ver a pessoa. Aquela voz me chamava como se estivesse me procurando no meio da neblina, à medida que o som foi ficando mais perto, comecei a perceber uma silhueta se aproximando, quando chegou a um metro e meio de distância do local onde eu estava parada, reconheci que era o meu cunhado e pronunciei:

-Zé!!! O que você está fazendo aqui?

-Rita eu vou morrer e, eu não queria morrer!

-Zé, morrer é bom! Eu já morri muitas vezes! – o sonho parou aí e eu continuei dormindo-

No sonho, eu sentia uma inveja boa porque ele ia morrer e eu não. É estranho falar “inveja boa”, mas ela existe. Ocorre quando você deseja estar no lugar daquela pessoa, ou ter alguma coisa que aquela pessoa tem, mas não de forma obsessiva ou negativa, você deseja aquilo para você, mas quer que a pessoa tenha também ou continue tendo aquilo que você deseja, isto é “inveja boa”.

Continuando...

Acordei as 6:30 da manhã com o telefone tocando; meu marido atendeu.

Levantei e perguntei quem havia ligado, ele me respondeu que era o José, irmão dele. Ainda meio sonolenta balbuciei que havia sonhado com o Zé.

O que você sonhou? – indagou o meu marido- Nesse momento recordei todo o sonho e, achei melhor não contar para não impressiona-lo, até porque o meu cunhado estava bem e gozava de plena saúde.

Respondi que não lembrava do sonho.

Contei o sonho para a irmã dele e pedi que não comentasse nada pois, era apenas um sonho.

Importante esclarecer que, meu cunhado morava em São Paulo e eu no Rio, nos víamos, no máximo, quatro vezes por ano. Contudo, tínhamos muita afinidade e nutríamos um imenso carinho um pelo outro.

Um mês após o sonho, tive que ir a São Paulo a trabalho e o meu cunhado se ofereceu para me pegar no aeroporto. Já em São Paulo, a caminho da casa do meu cunhado, este começou a reclamar de uma dor muito forte na barriga. Comentei que a dor podia estar ocorrendo porque talvez ele tivesse comido algo muito temperado, ou então comeu alguma coisa que não tinha o habito de comer.

Retornei ao Rio naquele mesmo dia porém, preocupada com o meu cunhado que acabara dormindo após tomar diversos analgésicos para passar a dor.

À noite, após contar o ocorrido para o meu marido, pedi que telefonasse para o irmão para ver se ele havia melhorado. Depois de diversas tentativas sem êxito, ele resolveu ligar para a minha cunhada. Esta o informou que o Zé havia sido internado de urgência e sofrera uma cirurgia. Posteriormente, ficamos sabendo que se tratava de câncer no intestino.

Após o diagnóstico, a rotina do meu cunhado passou a ser melhoras com volta para casa e pioras com retorno para o hospital.

Novamente, tive quer ir a São Paulo a trabalho e, meu marido queria que eu aproveitasse a oportunidade para fazer uma visita ao seu irmão que estava no hospital. Entretanto, como eu soube por parentes que o Zé havia perdido muito peso e estava muito magro, pedi ao meu marido que mantivesse sigilo sobre a minha viagem, uma vez que, não pretendia visitá-lo pois temia chorar quando o visse e deixar transparecer no meu semblante que algo grave estava acontecendo.

Cheguei em São Paulo e fui direto para a empresa onde tinha que realizar o trabalho. Estava em reunião quando a secretária entrou anunciando que meu marido estava no telefone querendo falar comigo. Tal fato, me causou estranheza, eis que, meu marido além de não ter o telefone da empresa, poderia ter ligado para o meu celular. Embora eu tenha descartado a hipótese de atender ao telefone no meio de uma reunião, a dona da empresa insistiu para que eu atendesse pois poderia ser alguma urgência. Ao atender, meu marido me explicou que, só ligara porque o pai dele precisava voltar para o Rio e a mãe e a namorada do Zé precisavam ir para casa descansar. Falou ainda que, à noite ele iria a São Paulo e eu deveria ir para o hospital ficar com o irmão dele até ele chegar.

Apesar de ter tentado esconder a minha ida a São Paulo, não foi possível, o próprio destino se encarregou de mover os pauzinhos e me colocar perto do Zé. Não existia outra alternativa, naquele dia eu tinha que ficar com o Zé no hospital. Fim da reunião, indaguei a dona da empresa, após citar o nome do hospital, onde eu poderia pegar um táxi. Ela me respondeu que não precisava pegar táxi e chegando na janela apontou para um prédio, que ficava a uns cinquenta metros do local em que estávamos, indicando que o hospital era naquele prédio. Coincidência ser tão perto? Não sei...

Minha sogra e a namorada do Zé estavam no quarto quando eu cheguei e aproveitaram a minha presença para irem tomar um café. Ele estava sedado, dormindo e respirava tranqüilamente. Logo que elas saíram, apoiei a minha mão sobre a dele suavemente, fiz uma oração, assim que terminei ele respirou profundamente e faleceu. Isto ocorreu dez minutos após a minha chegada no hospital.

Perguntas que ficaram na minha mente:

Por que, se tínhamos tão pouco contato, ele veio em sonho avisar, justo para mim, que ia morrer?

Por que, embora ele morando em São Paulo e eu no Rio, o destino teceu suas teias para eu estar presente quando ele teve a primeira dor e quando ele faleceu?

Qual o significado de “eu morri muitas vezes” no comentário do sonho?

Seria para me provar que existe reencarnação?

Se existe, qual teria sido a minha relação com o Zé em outras vidas para fazer com que nessa, eu participasse dos momentos mais difíceis da vida dele?
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