PREMONIÇÃO – Capítulo III
Eu e meu irmão sempre fomos grandes companheiros. Antônio era uma pessoa alegre, divertida, tinha muitos amigos, isto antes de se tornar alcoólatra. Sem mais nem menos, um dia apareceu na casa de minha mãe dizendo que estava de férias e que estava precisando dar um tempo da família.
Falo casa da minha mãe porque, nessa época, meu pai já havia falecido e eu já estava casada. Pois bem, desde que ele chegou na casa da minha mãe começou a beber sem parar, minha mãe foi investigar o que estava acontecendo e descobriu que ele havia abandonado o emprego, a mulher e o filho ainda bebê. E, embora tentássemos descobrir de todas as formas o que o levou a tomar essa atitude, até hoje ninguém sabe.
Durante quinze anos a minha mãe sofreu indo buscá-lo nos lugares mais estapafúrdios possíveis e o encontrava completamente embriagado. Diversas vezes recebeu telefonemas, no meio da madrugada, informando que ele havia se acidentado e estava no hospital. Foi internado em Clínicas de Recuperação, fez vários tratamentos, mas nada, nada conseguiu livrá-lo do álcool. Com exceção da minha mãe, eu e meu irmão caçula, o restante da família começou a abandoná-lo, ninguém mais queria a sua presença.
A minha mãe, que já estava com oitenta anos, ao ver o estado lastimável que ele ficava, orava a Deus pedindo que o levasse. Ela temia morrer antes dele e deixá-lo sem amparo, sabia que ninguém iria fazer por ele o que ela fazia.
Uma noite sonhei que estava dando banho em uma criança em um banheiro dentro da minha sala de visitas, a porta deste banheiro estava entreaberta e dele eu podia ver a porta de entrada da sala de visitas. Em pé nesta sala estava o meu irmão Antônio, só que no sonho ele estava sorridente, jovem e bonito. Exatamente como ele era antes de se tornar um alcoólatra. Alguém tocou a campainha e o meu marido foi atender, como eu estava ocupada dando banho na criança, olhei pela abertura da porta para ver quem havia chegado. E, era o meu pai que, ao ver o meu marido, pronunciou esta única frase:
-Vim buscar o Antônio.
O Antônio saiu com o meu pai, o meu marido fechou a porta e o sonho terminou aí.
No dia seguinte ao sonho eu estava falando com minha irmã mais velha no telefone e durante o assunto ela tocou no nome do Antônio. Contei o sonho para ela. Ela me interrogou se no sonho o meu pai não perguntava pela minha mãe. Eu respondi que não. Neste mesmo dia, mais tarde, ligou a minha irmã mais nova que, coincidentemente, também fez um comentário sobre meu irmão e eu contei o sonho.
Três dias após o sonho, a minha irmã mais nova me ligou e falou que tinha uma notícia para me dar:
-Você lembra do teu sonho com o Antônio? – perguntou minha irmã.
-Lembro. – respondi.
-Ele faleceu....foi encontrado esta manhã morto, caído no chão do banheiro. Estou pasma! O teu sonho foi uma premonição.
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